O funcionário público Antônio Martins Sobrinho cumpre uma rotina há 40 anos: pular e nadar todos os dias no rio que banha a cidade de Castro
A cena é comum praticamente todos os dias na ponte do trilho de trem sobre o rio Iapó. Quem passa pelo local por volta das 6h30 se depara com o funcionário público Antônio Martins Sobrinho, mais conhecido como o Tarzan do Iapó, nadando no rio. Há 40 anos, faça chuva, sol, frio ou calor, lá está ele, despertando a curiosidade e a atenção dos moradores da cidade.
O que pode parecer loucura para alguns pode ser traduzido como paixão pela natureza. Martins Sobrinho começou a nadar no rio Iapó quando tinha 14 anos. “Eu morava em uma chácara e o rio banhava boa parte dela. Lá eu só mergulhava”, lembra.
Hoje, aos 54 anos, mantém o mesmo pique e a rotina é idêntica. Às 5 da manhã, Martins Sobrinho levanta. Enquanto faz o café, ele aproveita para se alongar. São entre 60 e 100 polichinelos, 30 agachamentos e 50 apoios sobre o solo. Em seguida, o funcionário público sai de casa correndo até a ponte, em um trajeto de aproximadamente 400 metros. Por volta das 6h30 da manhã, lá está o Tarzan do Iapó, fazendo um alongamento e correndo sobre os dormentes do trilho de trem antes de saltar. “Sempre pulo da altura do trilho, e em um local específico, onde é o canal do rio. Ali é mais seguro, porque o rio é assoreado. Antes eu me jogava de cima da plataforma, agora não me arrisco mais, todo o salto é calculado”, revela.
A sua rotina de pulos e braçadas no rio só é impedida quando ele tem de resolver problemas familiares ou por algum problema de saúde, o que é raro. Nem em dias muitos frios ele desiste da sua paixão. “Em dias muitos frios, eu tenho de acumular caloria no corpo. Se mesmo assim eu estiver com frio, eu passo óleo de cozinha no corpo”, explica.
No seu trajeto, Tarzan nada até a cachoeira da prainha, somando 30 minutos de nado. Enquanto está no rio que tanto ama, o funcionário público aproveita para carregar o lixo que encontra dentro da água e leva para as margens do Iapó. Uma vez por semana, ele sai da sua casa à noite, anda cerca de 250 metros e, munido de sacolas plásticas, recolhe o lixo que juntou. Pacotes de biscoitos, latas de cerveja e refrigerante, garrafas pet e até um carrinho de bebê já foram retirados do rio por ele, que leva para a casa todo o lixo para reciclar o que é aproveitável e colocar o restante na lixeira para o caminhão de coleta de lixo carregar. “Hoje tem a questão do meio ambiente, da preservação do rio. Eu quero chamar a atenção para que a população veja a situação do rio. A gente pode chegar na natureza sem destruir nada. O rio não vai voltar como era antigamente, mas pode melhorar muito do que está hoje. Esse é o maior patrimônio que nós temos em Castro, de onde se tira a água que nós bebemos”, afirma.
Com 40 anos acompanhando a rotina do rio, Martins Sobrinho relembra das épocas de ouro do Iapó. “Era outro rio, outra água. Dá saudade. Agora, quando chove muitos dias não é bom nadar, porque tem muita sujeira”, conta, revelando que a poluição já o impediu de nadar no Iapó. “Hoje em dia já melhorou, mas continua poluído. O lago do Parque Lacustre é o que mais polui. O pessoal solta esgoto direto lá. Esses dias tinha até gasolina”, afirma.
Apelido
O apelido de Tarzan do rio Iapó surgiu há 33 anos. “Em 1975, por causa de eu viver no rio, o pessoal começou a me chamar de Tarzan. Daí ficou”, afirma o funcionário público. Segundo ele, a sua presença todas as manhãs no Iapó virou uma referência na cidade. “O pessoal ali da região sempre fica comentando com os outros e perguntando: O Tarzan já passou?”, brinca.